É mais confortavel ficar sentada do que ficar em pé. Sentei. Ou melhor, me atirei no chão, mas sempre olhando para frente, a casa branca. Uma casa linda de dois andares, com uma única janela no segundo andar que tinha a direção para a rua. A janela que eu olhava, só para ela.
Conseguia ver ela acesa, através da escuridão. Conseguia ouvir sua voz através do silencio. Conseguia vê-lo, através do nada.
Já não falava mais, não tinha vontade, não queria respirar, era um desejo.
Mas não conseguia, do mesmo jeito que alguém tenta se matar apenas prendendo a respiração. Impossível.
Meu ultimo momento ao seu lado foi duas horas antes daquela noite.
Eu estava ao seu lado, segurando uma de suas mãos, enquanto ele brincava com uma mexa do meu cabelo castanho. Nossos dedos se entrelaçavam como engrenagens perfeitas. Meus olhos estavam nos dele, até ele me fitar de volta. Ficamos nos encaramos durante uns 3 minutos. Juntos tinham uma tristeza sem sentido, uma tristeza sem nexo, apenas tristes. Momentos antes eu havia chorado, chorado lagrimas sem razão, apenas para desperdiçá-las, ao mesmo tempo em que elas escorriam pelo meu rosto ele sussurrava uma única frase no meu ouvido: “não chore, por favor, por mim. Não tem sentido isso, pare, por favor.”
Tinha como não obedecer um pedido vindo daquele de quem você mais ama?
Três dias antes, ele tinha terminado com a namorada. Eu nunca tive oportun... não, oportunidade eu tive, o que não tive, foi coragem. Coragem para dizer que o amava. Mas fazia algum sentido dizer isso agora?
Três horas depois de ainda estarmos tristes, e nos olhando nos olhos, suas palavras foram depressivas e com razão: “ já são oito horas, foi bom estar contigo.”
Ele me beijou. Beijou, e beijou, eu só conseguia sentir o gosto dos lábios dele nos meus. O momento foi único, o gosto ainda esta na minha boca, e ficou marcado do mesmo jeito que a falta também ficou. Larguei-o, pois não sentia mais nada, alem de estar anestesiada ele tinha parado de me beijar. Tentei olhá-lo nos olhos, mas foi inevitável, ele também me olhava, mas não como um olhar qualquer.
Eu gritei.
Gritar pra que? Adiantaria? Tentei olhá-lo novamente nos olhos, mas nada se mexia, nem o coração batia, a estatua mais linda e perfeita que eu já vi. A estatua que eu daria um braço pra ter na minha casa, mas ela não estava mais ali enquanto eu pensava nesses detalhes...
• • •
Eu conseguia ve-lo, sentado ainda, naquela cadeira que ficava de frente para a janela, aonde podia ver tudo e todos. Todos que passavam na rua tinham o mesmo pensamento, o que você pensaria de uma guria que passa sua vida toda sentada na frente de casa olhando sempre pro mesmo lugar, sem se mexer?
Sempre, sempre, mas sempre mesmo, antes de dormir, eu escutava sua voz no meu ouvido, acreditava tanto nisso, que conversava sozinha já.
- ele aparece toda noite pra mim – disse eu para.... para... ér... eu mesma.
As vezes ficava sem dormir, só para poder escutar sua voz, mas em outros momentos queria sonhar com aquele sorriso perfeito. Mas sempre de longe... eu corria em direção a casa branca como se fosse pega-lo, mas eu não me mexia, como se corresse em uma esteira. Mas então porque ele sorria sempre pra mim mesmo sabendo que eu nunca ia alcançá-lo?
Hoje, estou em um quarto branco. Todo branco. O teto, as paredes, a cama, minha roupa, tudo, e, continuo sentada. Na beirada da minha cama branca. Olhando para frente, vendo a casa de dois andares.
Que nunca esteve lá.
Seria um sonho?
POR GABRIÉLI MINUSSI GIROLDI (: